AMARELO, MAGENTA & CIANO
Uma das maiores questões no aprendizado de qualquer processo criativo é a compreensão, tradução e aplicação das cores. Na tinturaria e estamparia têxtil o domínio da paleta cromática é imprescindível. Mas o que é cor? Cor é a resposta fisiológica do olho a percepção da luz, e também um assunto de enorme extensão, impossível de se abordar em poucas linhas. Vários artistas, estudiosos e cientistas já pesquisaram e esmiuçaram a luz e seus efeitos, entre eles as cores, produzindo conclusões e sempre novas perguntas, mas basicamente as cores são a tradução do espectro da luz. Ao olho humano percebemos as cores de duas formas: a cor-luz (comprimentos das ondas espectrais percebidas) e a cor-pigmento (absorção e reflexão de luz por uma massa de matéria). Essa é uma síntese bastante leiga da física das cores, essa qualidade da luz, mas nos ajuda na sua compreensão.
O homem sempre buscou reproduzir o infinito de matizes e tons que percebia ao seu redor, suas sombras e claros, e a procura por materiais que possibilitassem isso, ou seja, a descoberta dos pigmentos, foi uma verdadeira odisséia. Os pigmentos naturais foram e são usados pelo homem em diversos meios e suportes, para muitos fins, desde a pintura de sua própria pele até a representação do mundo que o cerca, em formas e cores. Na tinturaria e estamparia têxteis a busca pelos corantes adequados às fibras tecidas produz um capítulo extenso e belíssimo de ciência tecnológica na exploração da natureza. As maiores dificuldades nesse trajeto eram encontrar elementos naturais que produzissem o efeito cromático desejado, e algumas cores só foram possíveis nos tecidos a partir do final do século XIX, com a sintetização dos pigmentos e portanto a ampliação absoluta da paleta de cromia tintureira.
Nos têxteis é a cor-pigmento que acontece através da aplicação e fusão das 3 cores que chamamos primárias: azul-ciano, amarelo e magenta, tradução física dos espectros primários da cor-luz: vermelho, verde e azul. É a mistura dessas 3 cores em variadas proporções que reproduz o infinito repertório de cores. Mas falando em cores, e o branco & preto? Bem, o branco é a presença de luz pura, total, e o preto seria a ausência absoluta de luz, mas na prática entendemos tanto uma como outra como cor. A utilização de pigmentos na revelação das fórmulas de cor é um aprendizado contínuo, e na tinturaria há dificuldades adicionais, sendo um dos principais capítulos no nosso trabalho em oficina. Na estamparia as cores podem ser aplicadas por vários processos, com a utilização de material sólido (pastas e tintas) ou corantes líquidos, e são estudadas na criação do desenho de estampa por sobreposição ou em laterais.
Nos últimos anos uma atenção especial passou a ser dada ao desenho têxtil brasileiro, por exigência do mercado, principalmente externo, que anseia e exige um desenho de estampa e uma paleta de cores com forte identidade brasileira, o que nos lança um grande desafio, já que a indústria nacional foi sempre bastante recalcitrante em desenvolver um produto próprio, por considerações de custo mesquinhas e uma identificação equivocada com padrões e paletas de cores estrangeiros. Uma complicação adicional nesse processo é o desinteresse na formação de profissionais voltados à estamparia têxtil. Na verdade nossas dificuldades são pequenas, já que as referências nativas e a cromia de luz cheia que a linha do Equador nos proporciona favorece o desenho absolutamente, sua pesquisa e criação e o exercício de um pensar brasileiro.
Para quem se interessa pelo tema vasto e fascinante das cores ao olho humano, existe uma boa bibliografia, com estudos interessantíssimos, sendo os textos das pesquisas e descobertas do físico Isaac Newton essenciais, suas experiências com a luz em prismas e lentes. Leonardo Da Vinci escreveu ” Tratado da Pintura e Paisagem – Sombra e Luz” , maravilhoso estudo do uso plástico das cores, e o alemão Johann Wolfgang Von Goethe fez uma admirável e abrangente abordagem do tema em “A Teoria das Cores”, um clássico de leitura deliciosa.
Tudo o que vemos é iluminado, portanto coloridos são nossos dias e nossas noites, nosso big-bang cósmico. Uma das mais belas frases ditas sobre nosso planeta foi do astronauta russo Yuri Gagarin, quando olhando-o do espaço: “A Terra é azul”. Um azul que guarda talvez a mais variada paleta de cores desse nosso universo.